segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Balanço e prognóstico
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Aquela a quem um dia chamei confidente
Provavelmente estou a exagerar mas quando um simples aceno ao porteiro (não querendo de forma alguma desprestigiar o cargo) constitui uma marca na memória de um passado já com uma certa distância, alguma coisa há-de significar. Ainda se fosse uma porteira com rasgado sorriso mas nem era o caso. Distância essa multiplicada por tudo de bom que já tive o privilégio de fazer depois dessa etapa. E como é óptima a terapia oferecida pelas coisas boas que nos acontecem quando temos algo pendurado a que queremos dar uma tacada para qualquer buraco negro…
Mas a recordação mais marcante desse tempo será sempre aquela amiga, a minha confidente, quase um anjo da guarda. Não quero desconsiderar as pessoas que lá conheci e até contactei com gente porreira mas com essa amiga desenvolvi uma relação espiritual intensa, diria até intensamente libidinosa! E tudo por causa daquela sala sinistra que me atribuíram como posto de trabalho durante meses a fio. Era eu e alguns computadores e servidores à minha volta; por vezes irrompia gente por aquela porta envidraçada, falando, barafustando, uns furiosos com as máquinas, alguns com bolas anti-stress, outros com um cigarro na boca e mais um na mão, pronto para ser o próximo prego?, pior que isso, ali entre os dedos esquecido, o que dá para ter uma ideia das dependências, dos vícios… mais da máquina que da própria nicotina. A sala podia considerar-se também um museu – à minha frente uma parede de vidro permitia vislumbrar as antigas máquinas com que se trabalhava na antiga companhia nacional de telefones em tempos idos, saudosos para uns, desconhecidos para outros. Após a breve satisfação da curiosidade, decido espreitar por uma das janelas laterais que oferecia uma magnífica vista… para o cemitério. Mas prestando atenção a outra dava de caras com ela, e desvendo aqui a misteriosa e fiel amiga que entrou na minha vida naquele tempo, bem segura e emproada, lá estava ela – a Árvore.
Com o tempo tornou-se a minha confidente, e foi escolhida por não encontrar perfil em ninguém para o ser relativamente ao que me ia verdadeiramente na alma, nem mesmo a pessoa com quem partilhava mais segredos na altura. O que eu tinha para dizer era de grau que me ultrapassava a mim próprio e, por conseguinte, a razão de qualquer ser da minha espécie. Por isso aquela árvore era a mais indicada; para ela, que aguentava ali estoicamente de pé há tanto tempo, o que eu tinha para dizer não lhe faria dobrar de espanto um só ramo. Enquanto ouvia o que me ia na alma, deixava-me assistir ao seu ciclo periódico de vida, desde o nascimento das primeiras folhas que a iam pintando com uma manta verde que daria abrigo daí a quase nada a tantos e barulhentos pássaros que vinham dificultar a conversa, talvez ciumentos daquela nossa cumplicidade. Os dias passavam, contavam-se as semanas, arrastavam-se penosamente os meses, e eis que chegava a estação em que, de forma ousada, ela começava a despir-se até se mostrar completamente fazendo-me ruborizar a mente (vá lá que a minha timidez, vergonha e afins não se mostram na face, é um trunfo que eu fui aprendendo a usar desde miúdo…).
Um dia mudaram-me de sítio e aí sucumbi; concluí que a árvore era o elo que me prendia àquele lugar estranho; fui embora e passei a dedicar-me ao que faço hoje, ficando por saber até quando. Acenei pela última vez ao porteiro, sem nostalgia mas lamentando não a poder trazer comigo. Agora que a lembrança trouxe a saudade, ganha força a ideia de um dia destes lhe fazer uma visita e talvez ganhe também coragem para a abordar com um assunto melindroso a fazer lembrar as dúvidas na cabeça de Manuna (protagonista do livro “as micaias de manuna” do escritor Augusto Carlos - um bom livro para quem quer compreender os porquês com que alguns miúdos adoram brindar os pais e quem mais lhes apareça à frente): porque te despes tu quando nós mais roupa vestimos?
Lamentavelmente não a posso cá apresentar mas fotografei uma que ilustra bem alguns traços que eu vejo na existência de todas as árvores que conheço - solidão e resistência.
Se eu fosse Pablo Neruda ou pelo menos o seu carteiro, escrevia-lhe uma ode; sendo quem sou e a mais não podendo aspirar, limito-me a eternizá-la nestas simplórias palavras...
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Feliz Natal
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Eis que o fado regressa ao blogue
É a Ana Guerra com a sua “Maria das Quimeras”, um álbum que atinge na plenitude o que mais procuro numa história cantada – o vício. Posso dizer que não é amor à primeira vista mas de cada vez que o deixo rolar na aparelhagem já só espero pelo final para repetir a dose.
Quem tiver o privilégio de ouvir seus fados viajará num carrossel de emoções desde a velocidade de corridinho saltitante em “Quem brinca com fogo” onde podemos recordar sábios ditados populares até à velocidade cruzeiro com sonoridade que a minha (in)cultura musical lembra Rodrigo Leão em “Quero ser somente”. E que bem que Camões regressa após séculos no seu sono profundo com o seu “Amor é fogo que arde sem se ver”. O berço deste sentimento entoado nos seus bairros castiços também não é esquecido pois “Lisboa é sempre Lisboa”. E que tal naufragar na fatalidade de encontros e desencontros, montanha-russa de emoções que habitualmente caracteriza o fado em “Encontrei-te mas perdi-te”? Igualmente fatal é a interrogação de qual é o melhor capítulo da história. Muito difícil a escolha mas, para além dos que já referi, destaco ainda “Dizem que o fado nasceu” cuja melodia se solta agora mesmo nas paredes que me rodeiam e “Saudade vai-te embora” com uma mistura deliciosa de acordes (aqui aproveito para homenagear os responsáveis pelos sons libertados pelas cordas dos instrumentos, em especial a guitarra portuguesa).
E já que se fala em destaques não posso esquecer Vítor Reino que as palavras de agradecimento da Ana “O seu talento extasiou-me” bem ilustram e de que não duvido a olhar à amostra do que conheço do seu trabalho ao comando do grupo Flamma Voccis, que já me deliciou o espírito algumas vezes.
Agora que chegou ao fim uma vez mais e o silêncio impera nesta casa, fiquei a pensar que se não gostasse tanto oferecia-o à pessoa que mais admiro e que por sua vez admira o fado – a minha mãe. Mas vou emprestar-lhe, antes que se risque, pois tudo o que é bom na vida só o é para mim se for partilhado. Gosto de ver a marca que as sensações que me tocam os sentidos deixam nas outras pessoas.
Em suma, se na Ana Moura destaquei a voz quente, roucamente aveludada, na Ana Guerra enalteço a voz poderosa, altiva, atingindo ambas mas com textura diferente os mesmos píncaros da guitarra e as nostálgicas vibrações das suas cordas.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Os olhos do próximo são o melhor espelho
Colado à janela levo a companhia do sol que vai aquecendo todos os seres mais ou menos inanimados mais ou menos seguros pela gravidade emanada das profundezas do solo que vão palmilhando desde a alvorada. As gotas de orvalho suspensas nos braços descascados das árvores geometricamente separadas há muito que se eclipsaram. Os raios de luz que transpõem a massa gasosa que define a forma esférica do planeta deixam-me num estado febril que a custo vou resistindo para não me deixar levar pelo sono provocado. Como que reagindo à hipnose giro a cabeça para a janela oposta e avisto uma encosta forrada por um manto verde e castanho respectivamente pintado pela diversidade de plantas e pela vegetação amadurecida que um par de cavalos brancos vai consumindo em saudável competição. Este cenário preenche quase toda a janela, deixando espaço apenas o suficiente para se ver que o céu está azul vivo riscado de sangue branco que as passarolas (como diz Saramago no seu Memorial do Convento) a motor provocam ao rasgá-lo sem dó nem piedade a velocidade estonteante. O mesmo céu que se reflecte no rio, entretanto emergente na paisagem, cruzado por duas pontes que apresentam duas eras na construção, a do ferro e a do betão, no meio das quais um solitário pescador no seu barco suspenso sobre as águas pacíficas, esperando irredutivelmente que alguém morda o anzol, vê a imagem dos seus olhos ser devolvida pelo frio espelho e, através dos quais, o reflexo de todo o cenário que aqui se vê transcrito num pequeno excerto, consciente que está quem escreve de que seria um desafio tão exequível descrever tudo o que vê como conseguir esconder-se da sua própria sombra...
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Salada de fruta com castanhas
Eu até gosto bastante de fruta, quando consigo vencer a preguiça de a preparar. Nesta altura do ano surge o carnudo, suculento, … dióspiro. Já ouvi dizer que com canela fica-se sem palavras, tenho-me esquecido mas um dia destes experimento juntar a minha especiaria de eleição, antes que se vão embora mas vá lá que aparecem entretanto as romãs recheadas de bagos cristalinamente rosados e apetece comer um a um como se contam as pétalas dos malmequeres, devagar... Após o magnífico cenário que as suas progenitoras proporcionam aparecem de par em par as pequenas mas irresistíveis cerejas e depois do adeus deixam o protagonismo para o melão que refresca qualquer Verão, seja de entrada ou de sobremesa. Não podia cá faltar o "fruit de la passion", não há doce de maracujá que eu não aprecie, aparecendo sozinhos então tornam-se um vício imparável. E para terminar o ciclo da fruta vêm as uvas mas no caso destas, o que é perfeito é o néctar que delas escorre e que Baco e muito mais gente não resiste!
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Espionagem no comboio da aldeia global
A juntar a esta amálgama de sensações acrescento o facto de, ali sentado, poder discretamente olhar nos rostos cansados do trabalho, deprimidos com a vida, preocupados com algum problema recente, resignados com um não tão recente, ávidos pela partida, ansiosos pela chegada, animados em conversa de grupo, mexidos pela música que toca no leitor de MP3 (alguns em altos decibéis como se os outros tivessem pedido para que fossem o seu DJ de serviço), concentrados na SMS acabada de chegar, apressados a responder, atentos na leitura, distraídos na conversa ao telemóvel, alguém menos distraído a falar com alguém que está em França partilha de forma preocupada informações sobre a crise transmitida por outros parentes que estão nos States e no Japão, a aldeia global em todo o seu esplendor, até na crise... Há ainda olhares perdidos no horizonte, um a ler um livro que eu já li (será que imagina o final surrealista?), outros a ler livros que eu não li (fico com curiosidade de uns, de outros nem por isso), alguém que tenta ler a todo o custo o de outrem e fica rezingona por virarem a página sem ter chegado ao fim, quem a manda ser impertinente?, há também os novos leitores (os da imprensa gratuita), os obcecados por palavras cruzadas que buscam desenfreadamente uma solução difícil num compartimento algures esquecido do seu cérebro, e não esquecer a mulher que dá os últimos retoques na maquilhagem. O que mais me faz confusão é ver gente a ler de pé; é que, para mim ler é como comer, tem que ser sempre sentado para saborear bem cada palavra.
Entretanto alguém já se deve ter apercebido que eu também aproveito a viagem para fazer alguma coisa, espero é que não percebam que desta vez estou a fazer espionagem… tento disfarçar olhando Lisboa pelas janelas de ferro da ponte, hoje parece-me mais entorpecida pelo sono, ou então serei eu porque dormi bem menos do que o tempo que preciso para usufruir desse prazer que a vida me dá e atiro as culpas injustamente à cidade.Voltando com os olhos para as pessoas reparo numa rapariga que, impaciente, pensa em voz alta no que está a ler e vai tirando pequenas notas. De repente, surpreende-me com a pergunta de qual é a próxima estação mas num sotaque americano bem engraçado e rosto espanhol?, italiano? Lá atirei com as vulgares hipóteses mas nada disso!, francesa de gema – mas sossegou-me porque é normal não acertarem, uns vêem traços árabes, outros judeus,… confuso? Talvez, mas penso que ela simboliza bem o que podemos ser todos nós – o resultado da encruzilhada cada vez mais entrelaçada de gente que um dia partiu do mesmo ponto, se dividiu, se moldou, se definiu para muito tempo depois se (re)aproximar, se (re)misturar, se (re)fundir. Curiosamente, o livro que ocupava a rapariga que nem o nome sei, talvez ande por cá em Erasmus, tinha como título “Anatomia do Corpo Humano”. Eloquente? Eu sei que não!
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O último dia dos sorridentes 30 anos
Aproveito para sair um pouco mais cedo e fazer uma descontraída 'promenade' fotográfica por Lisboa, ao encontro de espaços que ainda não explorei. Rumo ao Campo Pequeno e contemplo a monumental praça, sigo a Avenida da República (esta em comemoração de quase um século de vida), bloqueio nas obras do metro obrigando-me a desviar mas um desvio perfumado pois, na esquina seguinte, invade-me o aroma do café oriundo de Timor, São Tomé e Príncipe, Brasil, …, de uma loja tradicional que por momentos transporta-me até distantes e encantadoras paragens. Vagueio sobre as pedras abrigadas pelas árvores do parque verde da Fundação do grande benemérito Calouste Gulbenkian, ouço os pássaros, percorro com o olhar a rota dos patos no lago, perco a noção da cidade lá fora. É este bálsamo mágico uma dádiva destes espaços que rejuvenesce quem os visita.
De novo na confusão subo até ao Jardim da diva, Amália Rodrigues, suspendo os meus olhos no horizonte desde os geométricos jardins do Parque do monarca britânico, Eduardo VII de seu nome, até ao vaidoso Marquês de Pombal que do alto do seu pedestal espreita o Tejo ao fundo, espelho da “sua” Baixa e dos bairros que rivalizam anualmente na Avenida que por Liberdade a tomaram e por entre os quais escorre. Exploro a Estufa Fria, e a Quente também, para de seguida me deixar levar pela brisa que sopra em direcção ao rio. Meia cidade percorrida e chego enfim a Santa Apolónia, imortalizada pela chegada do general “sem medo”, Humberto Delgado.
É na estação que avisto alguém que a minha memória vislumbra de tempos idos da Universidade. Não sei o nome mas ainda não esqueci que ao seu lado fiz alguns exames; provavelmente nem me conhece mas gostei de o rever, saber que por cá anda, com a batuta da vida na mão, fazendo o seu percurso de forma acelerada. E que nostalgia me deixou a pensar no que seria a nossa vida se pudéssemos ter por perto toda a gente que vamos conhecendo e que nos enriquece a existência. Não sei se seria bom mas deixa-me bastante curioso. E porque não um desafio mais ambicioso: cada um conhecer toda a gente deste mundo; descermos à rua e com quem quer que nos cruzássemos saberíamos exactamente quem tínhamos pela frente. Teria pelo menos um efeito negativo, perdia-se o mistério do rasto que rostos desconhecidos que os nossos sentidos encontram a todo o instante deixam quando lhes perdemos o alcance.
Agora que os vinhedos ribatejanos passam pela minha janela e nos campos convivem sadiamente touros e cavalos (será que imaginam o confronto que os humanos um dia lhes determinam?, quem sabe na praça onde comecei o meu passeio...), é hora de deixar a caneta e o papel e passar os dedos por uma revista de viagens. A imagem de capa desafia o sonho, nada mais que o Transiberiano que me faz saltar da real viagem do Intercidades para a imaginária Grande Travessia Intercontinental. Um dia, talvez…
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Desilusão? Nada disso!
Mas digam lá que mais se pode exigir de pessoas que dão (quase) tudo das suas vidas para atingirem os mínimos, para se prepararem para a derradeira competição, depois das condições que damos à grande maioria? Não digo que são miseráveis, até tem havido algum esforço das entidades “superiores” nos últimos tempos, mas fazendo uma comparação com os restantes países facilmente se vislumbram as diferenças abismais. Ou será que estou a ver mal e afinal estamos na China a competir sozinhos? Alguns até quase abdicam das outras competições internacionais para se apresentarem nas Olimpíadas na máxima força. O desabafo de Gustavo Lima (a medalha de bronze era inteiramente merecida) leva-me para as acusações sobre o dinheiro que se gastou com a preparação dos Jogos. Parece muito? É só dividir esse valor pelo número de atletas e comparar com os prémios individuais dos jogadores da selecção de futebol quando vão às fases finais e lembrar que um dia estes meninos tiveram a distinta lata de pedir isenção fiscal aos seus prémios. No mínimo, os que actuam em grandes clubes, deveriam doá-los, que falta lhes faria? E já que dizem que lá vão pelo orgulho pátrio, que necessidade existe para se atribuir prémios? Portanto, o desabafo do Gustavo faz todo o sentido e, se querem mesmo obter mais medalhas, não há outro remédio que não seja oferecer todas as condições. Senão, resta-nos o consolo de os ver lá com dignidade e, esta, ninguém pode pôr em causa. Que ninguém se sinta envergonhado!
Para a história ficam as medalhas de ouro para Nelson Évora (não vou esquecer o abraço emocionado depois do seu último salto àquele que de vizinho quando chegou de Cabo Verde passou a treinador, João Ganço, a ele se deve muito o êxito) e de prata para Vanessa Fernandes (numa palavra, BRILHANTES). Mas todos os atletas portugueses, pelo esforço, dedicação e ambição ganham a medalha de diamante, são os heróis nacionais.
As piores reacções tiveram o epicentro a partir das declarações de Marco Fortes após o seu mau resultado. No momento achei as mesmas um pouco despropositadas mas rapidamente percebi que o homem por detrás do atleta usou o sentido de humor para mostrar a sua frustração. Agora deu para perceber que em Portugal, para além de se atirar pedras logo ao primeiro desaire, também há muitas “flores de estufa” que se melindram muito facilmente. Haja sentido de humor, precisamos de mandar embora o cinzentismo estampado no rosto deste povo. Os sorrisos combinam melhor com as belas paisagens deste pequeno rectângulo ajardinado …
E o que será mais grave? As declarações do lançador do martelo ou do Presidente do Comité Olímpico Português que num momento diz que se vai embora e depois do resultado do Nelson já fica? Isto soa a “agarrado ao tacho” independentemente das competências que tenha até aqui demonstrado… A nossa atleta de salto Naide Gomes entrou na prova (pouco depois das declarações de Vicente Moura) visivelmente nervosa mas Presidente é Presidente e por isso não se questiona o timing completamente despropositado utilizado para fazer balanços.
E se fossem atletas lusos a deixarem cair o testemunho na prova de estafetas como aconteceu com a equipa norte-americana feminina, ainda por cima uma repetição do sucedido nos jogos anteriores?
Às vezes até é positivo não se ser muito patriota para se olhar para certas coisas com isenção e objectividade. É que, apenas um pormenor a acrescentar a tudo isto, esta foi em termos globais a melhor participação de sempre de uma delegação portuguesa numas olimpíadas. E esta, hein? Um abraço ao eterno Fernando Pessa, a quem roubei a sua tirada final de cada reportagem!
quinta-feira, 17 de julho de 2008
From London with Love
E finalmente um apontamento digno de um verdadeiro sortudo, o tempo esplendoroso que encontrei contrariando as habituais expectativas que pairam no ar quando se diz I'm going to London...
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Quem sonha fica mais perto de alcançar
Ter uma turma assim ajuda-me a crescer como professor mas, acima de tudo, como ser humano. Proporcionaram-me grandes momentos de humor mas também me presentearam com a vossa entrega, perseverança, sabedoria, com a vossa humildade... Por isso, posso dizer que hoje sou um homem mais rico (com carteira nova e tudo :-))))
Termino com um poema de António Gedeão que se transformou na célebre música de Manuel Freire, que vos dedico porque a letra encaixa plenamente na forma como eu vos vejo a chegar à escola com o caderno debaixo do braço.
Obrigado por terem passado pela minha vida, de forma breve mas marcante! Um bem-haja a todos...
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
terça-feira, 8 de abril de 2008
Viagem por grandes obras...
Mas retomando as grandes obras, foi óptimo deambular com Eurico (guerreiro visigodo de Alexandre Herculano que se converte em Presbítero ao ver-lhe negado o amor a Hermengarda) de Toletum (Toledo) até aos cerros escalvados do Calpe (Gibraltar) de onde se avistavam bem perto os cimos das torres de Septum (Ceuta); dos campos de guerra da região de Híspalis (Sevilha, na altura dos romanos também conhecida por Rómula) até ao refúgio (Covadonga) das Astúrias onde não aceitou resignar-se. E que dizer do tresloucado Amor de Perdição de Simão por Teresa de Camilo Castelo Branco que os leva de Viseu até ao enclausuramento no Porto? E as Pupilas do Senhor Reitor (Margarida e Clara) de Júlio Dinis com as suas vivências cruzadas com Daniel no Alto Minho. E, obviamente, não poderia faltar o amor incestuoso de Carlos e Eduarda em "Os Maias" de Eça de Queirós, obra em que o escritor não poupa a decadência moral de então da 'alta' sociedade da capital e não só. Resta dizer que muito do que estes homens nos legaram através dos seus livros mantém-se actual, para o bem e para o mal...

Agora que este vício me invadiu, estou já a preparar a minha próxima viagem no tempo que pode ir desde A Cidade e as Serras ao encontro com A Morgadinha dos Canaviais e aproximar-me da actualidade com Mau Tempo no Canal, A Selva, Aparição, Memorial do Convento, A Sibila e tantos mais...
quinta-feira, 20 de março de 2008
If I Saw You In Heaven?
terça-feira, 11 de março de 2008
Avaliação dos Professores
Mas de que forma?

segunda-feira, 10 de março de 2008
E este país, será para velhos?
Para o ano há mais, veremos que surpresas a malta cinematográfica nos vai reservando...
terça-feira, 4 de março de 2008
Beautiful Day

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
(Miguel Torga)
The heart is a bloom
Shoots up through the stony ground
There's no room
No space to rent in this town
You're out of luck
And the reason that you had to care
The traffic is stuck
And you're not moving anywhere
You thought you'd found a friend
To take you out of this place
Someone you could lend a hand
In return for grace
It's a beautiful day
Sky falls, you feel like
It's a beautiful day
Don't let it get away
You're on the road
But you've got no destination
You're in the mud
In the maze of her imagination
You love this town
Even if that doesn't ring true
You've been all over
And it's been all over you
It's a beautiful day
Don't let it get away
It's a beautiful day
Touch me
Take me to that other place
Teach me
I know I'm not a hopeless case
See the world in green and blue
See China right in front of you
See the canyons broken by cloud
See the tuna fleets clearing the sea out
See the bedouin fires at night
See the oil fields at first light
And see the bird with a leaf in her mouth
After the flood all the colours came out
It was a beautiful day
Don't let it get away
Beautiful day
Touch me
Take me to that other place
Reach me
I know I'm not a hopeless case
What you don't have you don't need it now
What you don't know you can feel it somehow
What you don't have you don't need it now
Don't need it now
Was a beautiful day
(Bono Vox, U2)
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
A minha última descoberta musical
Os búzios, Não fui eu, Mapa do coração, Aguarda-te ao chegar, A sós com a noite, Fado das horas incertas são os títulos das faixas que mais aprecio mas as restantes não ficam atrás. Por isso, o melhor mesmo é folhear esta história "Para além da saudade" página a página, linha a linha, letra a letra. Uma história que se complementa com um bónus de alguns vídeos em dvd e com a tradução para inglês ler. Não vou cá citar nenhum dos poemas porque, quem já os conhece sabe do que eu estou a falar, quem não os conhece então espero ter aguçado um pouco o apetite.
Patriotismo?
Quanto à grande obra cantada de Camões, quem a lê não consegue deixar de se sentir em constante movimento , viajando numa caravela de sonhos entre tudo o que os olhos registam pela primeira vez e o que a imaginação consegue acrescentar, entre um mundo velho e um mundo novo, entre as forças da natureza e a força das figuras míticas. E esta obra tem um efeito adicional sobre a minha pessoa; é que não sendo eu propriamente um patriota, não consigo ser indiferente a esse sentimento quando leio as suas estrofes cantadas. Não consigo olhar para Portugal e para os portugueses como os melhores ou os 'maiores da freguesia' (afinal de contas isso denotaria um certo complexo de inferioridade), apenas avalio as suas características como tento fazer todas as avaliações no quotidiano, o mais imparcial e justo que consigo ser. Mas, entre as muitas qualidades e defeitos, lamento que não se consiga aproveitar da melhor forma a nossa histórica e positiva abertura ao mundo exterior para nos enriquecermos (i)materialmente, para estabelecermos verdadeiras pontes com o que de positivo as outras culturas nos podem trazer. E digo 'positiva' porque acredito nos benefícios da 'aldeia global' que os próprios portugueses dinamizaram há alguns séculos atrás e, por via disso e não só, não nos podemos demitir. Sim, a globalização pode trazer grandes benefícios para todos se assim for a vontade de quem tem o poder da força mas também a força do saber.
Ultimamente até há quem venha com a conversa de Portugal e Espanha se juntarem num só país. Mas será que é mesmo necessário? Haverá ainda quem pense que os nuestros hermanos não nos tenham invadido já há alguns anos?, de forma pacífica e mais ou menos transparente como convém, que não estejam a aproveitar toda a carne que o nosso país tem a envolver o seu esqueleto? Eu cá desconfio de que o próprio tutano não escapa(rá) e, a haver culpas nesta situação, de certeza que não se poderão imputar aos espanhóis. Seria até injusto rotulá-los de oportunistas, talvez melhor lhes fique a etiqueta de 'atentos à oportunidade'.
Entretanto, acho que já sei o que me pode tornar um verdadeiro patriota: ou vou viver para o estrangeiro ou leio mais vezes "Os Lusíadas"! Mas será que o quero mesmo ser?
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
(...)
Sustentava contra ele Vénus bela,
Afeiçoada à gente Lusitana,
Por quantas qualidades via nela
Da antiga tão amada sua Romana;
Nos fortes corações, na grande estrela,
Que mostraram na terra Tingitana,
E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que é a Latina.
(Luís Vaz de Camões in Os Lusíadas)
