quinta-feira, 20 de março de 2008

If I Saw You In Heaven?

Hoje começa a Primavera e invadem-nos novas sensações, coloridas pela variedade de essências que a Mãe Natureza nos presenteia. E como é bonita de viver a Primavera da Vida que há muito tempo canta o Rui Veloso, este ano com um sabor mais doce porque surge em plena época da Páscoa com os seus ovos, amêndoas e tradições típicas de cada região. Como é rico este país em diversidades de todos os quadrantes nas suas pequenas divisões geográficas, diversidades vistas pelos olhos de alguém cuja condição meio apátrida permite alguma isenção.

Mas este dia é especialmente marcante para mim porque o Quim comemorou exactamente há um quarto de século o seu 16º aniversário o que quer dizer que, se não lhe tivesse sido roubada a vida nesse mesmo ano, hoje estaríamos a comemorar as 41 Primaveras do meu irmão mais velho. Devo dizer que sou um quase agnóstico ou pelo menos algo céptico relativamente às religiões; até acredito que haja uma força exterior que nos transcende e não fico indiferente a manifestações de fé como já presenciei algumas vezes mas nada me toca mais que a companhia do meu irmão desde que partiu e que eu sinto a celebrar comigo todas as coisas boas que me acontecem e a apoiar-me nos momentos mais difíceis.
Quando partiste ouvi muita gente dizer que a nossa mãe tinha ficado sem o filho mais velho mas tinha ficado com um muito semelhante e cujo o rosto não te deixaria cair no esquecimento, o sétimo filho, eu... Esses comentários não me deixaram indiferente mas a herança que me deixaste de que mais me orgulho é a forma grata de olhar a vida, de a encarar com optimismo. Não duvido que a herdei de ti porque, apesar da minha tenra idade na altura, bem me lembro o que a tua forma de ser provocava em todos nós. Gostaria imenso de ver a expressão do teu rosto em tantos momentos... o que mais destaco é o nascimento da nossa sobrinha mais velha há exactamente 10 anos, a Rita. Talvez tenha nascido a 20 de Março para preencher de alguma forma o vazio que a tua partida nos deixou, talvez tenhas mexido os cordelinhos para que tal acontecesse de forma a não nos esquecermos de ti. Podes acreditar que nunca te esquecerei porque imagino-te através da energia que sinto caminhar ao meu lado e que não me abandona e que eu sei que és TU!

Obrigado irmão, um brinde a ti e à Rituxa, parabéns!
P.S.
Revelo-te agora que, desde que conheço a música "Tears in Heaven" de Eric Clapton, a associo sempre a ti:
Would you know my name
If I saw you in heaven?
Would it be the same
If I saw you in heaven?
Para quem leu este texto fica o endereço onde pode ver a interpretação da música:

terça-feira, 11 de março de 2008

Avaliação dos Professores

Tenho lido muitas opiniões sobre o reboliço em que os docentes se viram envolvidos nos últimos tempos. Considero importante que todos os docentes se afirmem peremptoriamente, repito, peremptoriamente, a favor de uma avaliação. Como em qualquer outra actividade, há bons e maus professores, profissionais e incompetentes, pelo que urge separar o trigo do joio a fim de voltar a credibilizar aos olhos da Sociedade esta mui nobre profissão e de garantir o merecido reconhecimento que em tempos granjeou.

Mas de que forma?

1.De forma a empreender uma segregação na classe, elevando ao topo da pirâmide alguns BONS professores, distinguindo-os de muitos outros igualmente BONS professores, só porque não há dinheiro para pagar a todos os BONS?

2.De forma a valorizar o preenchimento de uma cada vez mais exorbitante quantidade de papelada ambígua que estrangula o tempo necessário para se encontrar estratégias para aumentar a produtividade das aulas?

3.De forma a contribuir para que a fraude ultrapasse pela direita a verdadeira dedicação à causa?

4.De forma a vedar o acesso ao exercício a novos docentes que não consigam atingir um determinado resultado numa prova de acesso, depois das muitas provas no percurso académico? O que significa isto, uma avaliação por antecipação ou uma forma perversa de combater o desemprego na área? Ao que tudo indica, quem não conseguir atingir os mínimos nem professor se pode designar.

5.De forma baseada no parecer dos gestores das novas escolas autónomas? Mas é preciso cuidado porque a autonomia mora ao lado do livre arbítrio de quem tem o poder; como é que os gestores dos estabelecimentos verão a sua "imparcialidade" fiscalizada?

6.De forma a, assentando os seus pressupostos nos resultados dos alunos, contribuir para a gestação de "analfabetos" que irão um dia destes tomar conta do país nos seus mais diversos sectores? Não será preocupante cair-se numa lógica de facilitismo desmesurado só para se atingir elevadas taxas de encartados? A UE vai ficar contente com os números; algumas pessoas neste rectângulo à beira-mar desenhado radiantes; a maioria dos alunos indiferente porque sabem que não precisam de esforço para chegar à meta, chegam de qualquer forma; uma boa parte dos professores desalentada ao ver-se involutariamente atada de forma umbilical a esta realidade. Todas as medidas que retirem aos ombros dos alunos o peso da exigência são medidas com elevados custos a médio/longo prazo.


Não é isto que se pretende para a educação; esta constitui um bem público essencial pois é a base do sucesso de uma Sociedade que se preze e, como tal, demasiado sério para se utilizar como um brinquedo. Acima de tudo, impõe-se uma avaliação séria e justa para que a educação continue a ser uma causa à qual apareçam pessoas motivadas para se dedicar.


Por tudo isto, pais deste país, pensem bem no mundo que querem que os vossos filhos construam para os vossos netos! E dirijo-me aos pais porque, mesmo tendo em conta as dificuldades que muitos passam para levar a vida a bom porto, não tenho dúvidas que a eles cabe o maior esforço para que o barco chegue a alto-mar. Se fizerem esse esforço, os professores estarão nas escolas para ajudar os alunos a seguir a melhor rota e enfrentar as tempestades de Adamastor.




segunda-feira, 10 de março de 2008

E este país, será para velhos?

Não fosse eu como São Tomé (ver para crer, a sua filosofia de vida) e já teria comentado a atribuição dos óscares. "Este país não é para velhos" foi eleito o melhor filme e a dupla Joel e Ethan Cohen finalmente reconhecida com a estatueta da realização (o reconhecimento de "Fargo" soube a pouco). Tudo bem, o filme traz o tempero dos westerns para uma realidade mais actual, de uma forma bem satírica, realçando as razões - nenhuma aparentemente - que levam uns quantos malucos a desatarem a cravar-se de tiros. Algumas partes do filme são bem caricatas, para outras nem se apresenta explicação; talvez não seja necessário, talvez não tenha interesse explicar. O problema é esta minha mania de querer encontrar uma explicação bem racional para tudo o que mexe.

Mas, e Quentin Tarantino com o seu Kill Bill e Uma Thurman no papel de vingadora? Pois para mim não houve dúvida na altura que se trataram de 2 grandes filmes (em especial a sequela) mas foram completamente ignorados em Hollywood. Com isto não quero desvalorizar a conquista dos 2 irmãos, bem pelo contrário! Por isso mesmo, será que sopram ventos de mudança no interior da Academia? Terão receio de alguma coisa ou estarão apenas a descortinar novos horizontes? Então e Tim Burton e as suas criações? E Johnny Depp com as suas fantásticas interpretações? Em cada pele que veste é um assombro de talento em acção e sem limites, capaz de dar vida ao boneco mais inanimado. Para mim ele já ganhou mais de uma dezena de óscares e ai daquele que diga o contrário :-)))

E já que falamos em "vencidos" (os vencedores nem precisam de comentários pois se ganharam é porque tiveram o seu mérito) deixo uma palavra para duas pessoas: George Clooney e Saoirse Ronan. O primeiro dispensa apresentações mas a verdade é que quem o vê apenas como o grande galã (e não é atributo que lhe fique mal, eu até me vou candidatar ao lugar quando tiver idade :-))) o melhor é reparar no seu comportamento em "Michael Clayton" e verificar como ele preenche o ecrã com talento puro e não com esse estatuto. A segunda é uma miúda que encanta e deixa boquiaberta qualquer pessoa em "Expiação"; com o seu olhar de serpente não deixa ninguém desviar os olhos do ecrã. Contudo, se ela vencesse, se calhar o título do filme mais galardoado faria mesmo sentido e esse não é, de certeza, o verdadeiro pensamento dos Cohen.
Para o ano há mais, veremos que surpresas a malta cinematográfica nos vai reservando...

terça-feira, 4 de março de 2008

Beautiful Day



O dia até pode não despertar lá muito bem, acordas e a inércia que te impede de pôr um pé fora da cama é superior a qualquer vontade de abrires a janela e provares o aroma da frescura de um novo Sol que vai rompendo o horizonte...

Então a minha proposta é conheceres ou voltares ao sítio desta imagem, uma pintura onde a natureza invade todos os nossos poros e nos deixa um leve arrepio na alma, uma pintura onde as pedras nos contam a sua história e convivem em harmonia saudável com a verde encosta que se desenha até ao rio que a vai serpenteando numa dança leve mas apaixonada, uma pintura onde os nossos olhos se perdem na imaginação do que se esconderá por detrás da neblina que paira sobre a última montanha, uma pintura para a qual o Homem contribuiu com umas pinceladas geométricas sobre a Terra que com a sua efervescência dá à luz o néctar que identifica o nosso país nos confins do Planeta. Mesmo sendo eu um leigo na poesia, atrevo-me a dizer que consigo perceber exactamente o que Miguel Torga sentia enquanto absorvia a atmosfera que envolve esta pintura e a transcrevia para os seus poemas; e empreendo este atrevimento porque sinto a magia apoderar-se da minha consciência terrena e a transportar-me para um mundo novo, um mundo em que todos os dias são dias perfeitos. Eu já lá estive algumas vezes e desfruto sempre cada fracção de segundo, cada milímetro que alcanço, cada sopro de oxigénio no estado puro...

Por tudo isto, a minha audácia ultrapassa todos os limites e aqui levanto o véu do segredo do ninho de Torga; espero que me perdoe!

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

(Miguel Torga)

Quando não estás perante esta paisagem podes fazer como eu: despertar ao som desta música dos U2 que tem uma carga enorme de energia positiva, pelo menos a suficiente para ter vontade de abrir a janela e deixar o Sol entrar, o Sol que já rompeu o horizonte...

The heart is a bloom
Shoots up through the stony ground
There's no room
No space to rent in this town

You're out of luck
And the reason that you had to care
The traffic is stuck
And you're not moving anywhere

You thought you'd found a friend
To take you out of this place
Someone you could lend a hand
In return for grace

It's a beautiful day
Sky falls, you feel like
It's a beautiful day
Don't let it get away

You're on the road
But you've got no destination
You're in the mud
In the maze of her imagination

You love this town
Even if that doesn't ring true
You've been all over
And it's been all over you

It's a beautiful day
Don't let it get away
It's a beautiful day

Touch me
Take me to that other place
Teach me
I know I'm not a hopeless case

See the world in green and blue
See China right in front of you
See the canyons broken by cloud
See the tuna fleets clearing the sea out
See the bedouin fires at night
See the oil fields at first light
And see the bird with a leaf in her mouth
After the flood all the colours came out

It was a beautiful day
Don't let it get away
Beautiful day

Touch me
Take me to that other place
Reach me
I know I'm not a hopeless case

What you don't have you don't need it now
What you don't know you can feel it somehow
What you don't have you don't need it now
Don't need it now
Was a beautiful day

(Bono Vox, U2)