Hoje começa a Primavera e invadem-nos novas sensações, coloridas pela variedade de essências que a Mãe Natureza nos presenteia. E como é bonita de viver a Primavera da Vida que há muito tempo canta o Rui Veloso, este ano com um sabor mais doce porque surge em plena época da Páscoa com os seus ovos, amêndoas e tradições típicas de cada região. Como é rico este país em diversidades de todos os quadrantes nas suas pequenas divisões geográficas, diversidades vistas pelos olhos de alguém cuja condição meio apátrida permite alguma isenção.
Mas este dia é especialmente marcante para mim porque o Quim comemorou exactamente há um quarto de século o seu 16º aniversário o que quer dizer que, se não lhe tivesse sido roubada a vida nesse mesmo ano, hoje estaríamos a comemorar as 41 Primaveras do meu irmão mais velho. Devo dizer que sou um quase agnóstico ou pelo menos algo céptico relativamente às religiões; até acredito que haja uma força exterior que nos transcende e não fico indiferente a manifestações de fé como já presenciei algumas vezes mas nada me toca mais que a companhia do meu irmão desde que partiu e que eu sinto a celebrar comigo todas as coisas boas que me acontecem e a apoiar-me nos momentos mais difíceis.
Quando partiste ouvi muita gente dizer que a nossa mãe tinha ficado sem o filho mais velho mas tinha ficado com um muito semelhante e cujo o rosto não te deixaria cair no esquecimento, o sétimo filho, eu... Esses comentários não me deixaram indiferente mas a herança que me deixaste de que mais me orgulho é a forma grata de olhar a vida, de a encarar com optimismo. Não duvido que a herdei de ti porque, apesar da minha tenra idade na altura, bem me lembro o que a tua forma de ser provocava em todos nós. Gostaria imenso de ver a expressão do teu rosto em tantos momentos... o que mais destaco é o nascimento da nossa sobrinha mais velha há exactamente 10 anos, a Rita. Talvez tenha nascido a 20 de Março para preencher de alguma forma o vazio que a tua partida nos deixou, talvez tenhas mexido os cordelinhos para que tal acontecesse de forma a não nos esquecermos de ti. Podes acreditar que nunca te esquecerei porque imagino-te através da energia que sinto caminhar ao meu lado e que não me abandona e que eu sei que és TU!
Obrigado irmão, um brinde a ti e à Rituxa, parabéns!
P.S.
Revelo-te agora que, desde que conheço a música "Tears in Heaven" de Eric Clapton, a associo sempre a ti:
Would you know my name
If I saw you in heaven?
Would it be the same
If I saw you in heaven?
Para quem leu este texto fica o endereço onde pode ver a interpretação da música: