A mesma tem muitas portas de entrada, as mais encantadoras são oferecidas a quem vem de sul pelas várias pontes que cruzam a grande altura o Douro que mantém o seu bailado desconcertante por entre encostas curvas. A minha sugestão só podia ser a do Carlos Tê que escreve assim para a voz de Rui Veloso “Quem vem e atravessa o rio, junto à serra do Pilar, vê um velho casario, que se estende até ao mar”. Pode-se fazê-lo de metro mas o melhor mesmo é a pé para dar tempo suficiente às cores da Ribeira
E se a ideia do visitante é percorrer a monumentalidade, o Porto não desilude, podendo circular pelo pátio exterior da Sé, em torno do pelourinho, invadir o espaço interior, descer à estação de comboios de São Bento e deixar cair os queixos perante as gravuras de azulejo que revestem as suas paredes, subir a Avenida dos Aliados sempre com os olhos postos nas fachadas e cabeços dos edifícios que a ladeiam, flectir à direita e seguir com os ouvidos o rasto das apregoadoras do Bolhão, ou se preferir outras compras, percorrer a Santa Catarina mesmo que só para sentir a atmosfera dos passos cruzados da multidão, com o valor acrescentado que esta época proporciona com o cheiro da castanha assada e eis que se chega à praça da Batalha, rodeada por salas históricas de cinema e teatro, não esquecendo o Coliseu que do alto da sua rua observa o Rivoli com o qual a partilha.
Mas uma jornada destas já com algum peso nos músculos das pernas não deixa o viajante seguir em frente quando passa pelo Majestic sem ceder à tentação do convite das suas cadeiras para o cimbalino. Fazendo o percurso de uma parábola com concavidade positivamente voltada para o céu, chega-se à Torre dos Clérigos e o esforço das centenas de degraus é refrescantemente compensado não por uma
Voltando lá acima porque não vaguear nos jardins do Palácio de Cristal? E em pouco mais de quase nada chega-se à mais famosa rotunda da cidade em cujo centro se avista no alto um leão com as garras afiadas sobre as penas da águia, não retirando aqui quaisquer ilações pois estou numa posição neutral em relação a esta disputa. Numa das saídas destaca-se a Casa da Música, edifício polémico pelos atrasos no timing de construção e (a)normais derrapagens financeiras infelizmente comum a muitas obras públicas mas de inegável singularidade arquitectónica, que se junta ao (já que se meteu a colherada no futebol) Estádio do Dragão no que concerne a beleza dos novos padrões de construção. Tenho esta opinião totalmente isenta pois se cá no íntimo não gostasse da obra, era o primeiro a maldizer tal como o faço sempre quando as coisas não andam bem pela naçon azul. Polémicas à parte fazemos bem em descer a Avenida, e como é a maior que eu conheço no país, o melhor é parar a meio para lamber o beiço ao devorar a francesinha do Cufra. Bem sei que os gostos não se discutem mas esta faz parte do top de qualquer apreciador. Não esqueci as tripas mas pode-se deixá-las para o fim da volta ao regressar à Ribeira.
Retomando a mesma avenida, vale bem a pena fazer um desvio à esquerda para uma entrada na Casa e um mergulho nos Jardins de Serralves. De repente sente-se que a presença momentânea numa cidade talvez não esteja a passar de um sonho, até ser interrompido pela passagem a alguns pés de distância de um avião a aproximar-se do seu poiso. Antes do Castelo do Queijo, agredido pelas ondas do
E dando a tão pedida atenção a esse mar egocêntrico ao circular pela marginal da Foz, o passeio continua bem agradável e quando se dá conta já não é mar mas o seu enlace com o rio. A bicicleta é o meio ideal para seguir caminho mas uma viagem de eléctrico dá uma expressão pitoresca ao que falta palmilhar. Surge então a Ribeira com os rabelos e outros tipos de barcos sem passado atracados no cais a oferecerem o cruzeiro das pontes, uma forma diferente de se ver a cidade.
Outros sítios emblemáticos ficam por referir, entre palácios, museus, ruas, jardins, lagos, pátios habitados por
Agora Milton, vou pensar se te perdoo, não a acusação com que eu começo este texto, mas o facto de teres depreciado tanto o papel da minha diva Meryl Streep no “Mamma Mia!”, onde até deu um novo encanto à minha música preferida dos Abba “The Winner Takes It All” quando a interpretou com voz rouca e nostálgica, emoldurada por indescritíveis paisagens gregas, a mesma nostalgia que eu tenho ao escrever sobre o Porto a partir das vistas do meu quarto sobre Lisboa. Talvez o que te tenha ferido seja o facto de os Abba serem aquela banda que deixou uma marca, uma herança, talvez a despedir-se do seu público no momento em que nasceste mas logo ali te ficou no ouvido e cresceste numa adoração também crescente às suas músicas e, sendo para ti obras-primas, ninguém deve ousar proferi-las em vão. No meio de toda esta confusão sobra-me o discernimento para te agradecer o contágio que me passaste ao longo daqueles anos de convivência quase diária de Aveiro para crescer em mim uma admiração por estes 4 suecos que passaram que nem um tornado por este mundo, deixando uma indelével e irracional marca, desaparecendo de seguida quiçá para passar o tempo em jogatinas de sueca a 4.
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