sexta-feira, 11 de abril de 2008

Quem sonha fica mais perto de alcançar

Este texto é dedicado aos alunos da minha turma Extra-Escolar que há pouco me pregaram uma grande partida de final de Curso (esta dedicatória estende-se à turma que fez o Curso no 1º trimestre pela qual nutro sentimento semelhante). Quando se leva com uma partida destas é impossível ter uma reacção serena, racional... e tudo o que se disser é o coração a falar mas um coração emocionado acaba por não dizer tudo o que se pretende pelo que vos escrevo estas palavras para vos fazer o justo agradecimento. Adorei os bolos caseiros (de chocolate da Mª do Carmo; de mármore da Mª José e de requeijão da Mª Vitória - Nham Nham Nham - acompanhados por um Porto pois claro :-))) A carteira realmente estava a precisar porque a minha já andou pela guerra... mas não precisavam ter gasto dinheiro, o brilho que eu vi nos vossos olhos foi o melhor reconhecimento que eu poderia almejar.

"Adoptei-vos" desde o primeiro instante pois cedo percebi que tinha ali um grupo com quem poderia fazer coisas muito interessantes e ver-vos crescer no mundo da Informática foi um prazer que me fez chegar a cada 3ª, 4ª e 5ª à noite cheio de vontade de vos encontrar. Neste momento já sou eu que tenho um forte brilho nos olhos, de saudade mas também de regozijo por poder dizer que vos tive como alunos; foram mais do que isso e percebi hoje que vocês sabem bem que o foram...

Ter uma turma assim ajuda-me a crescer como professor mas, acima de tudo, como ser humano. Proporcionaram-me grandes momentos de humor mas também me presentearam com a vossa entrega, perseverança, sabedoria, com a vossa humildade... Por isso, posso dizer que hoje sou um homem mais rico (com carteira nova e tudo :-))))

Termino com um poema de António Gedeão que se transformou na célebre música de Manuel Freire, que vos dedico porque a letra encaixa plenamente na forma como eu vos vejo a chegar à escola com o caderno debaixo do braço.
Obrigado por terem passado pela minha vida, de forma breve mas marcante! Um bem-haja a todos...

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Viagem por grandes obras...

Num dos últimos textos que publiquei ia falar de grandes obras de escritores portugueses que tenho (re)vivido mas comecei pel"Os Lusíadas" e não mais avancei. Deve-se, sem dúvida, à sua infinita grandiosidade! O que vou cá destacar é uma colecção de romances que uma conhecida cadeia de supermercados decidiu re(apresentar) a preços convidativos e com uma imagem renovada. Adorei viajar com Almeida Garret pelo Tejo e pelo vale até Santarém (apenas discordo dele num apontamento final em que se manifesta em absoluto contra os caminhos de ferro que estavam a surgir na altura e apela à construção de estradas de pedra para cavalos e diligências percorrerem o país; discordo porque o comboio é o meu meio de locomoção favorito; uma viagem de comboio produz sensações incríveis, olhamos pela janela e assistimos a um filme de imagens animadas e coloridas que a natureza nos oferece, mas não precisa de ser muito rápido - o TGV dispensa-se - pois a viagem impõe-se descontraída e saboreada; quando se dá conta já estamos no destino e, por isso, a viagem não deixou de ser rápida como sempre se pretende; mas também acredito piamente que se o grande escritor vivesse hoje dispensaria muito bem as estradas e iria apreciar uma viagem sobre carris...). Viajar de carro até pode ser prático, viajar de avião até pode ser rápido, viajar de barco até pode ser delicado, viajar de bicicleta até pode ser saudável, viajar a pé até pode ser sabedoria mas viajar de comboio é isso tudo e mais, é magia...

Mas retomando as grandes obras, foi óptimo deambular com Eurico (guerreiro visigodo de Alexandre Herculano que se converte em Presbítero ao ver-lhe negado o amor a Hermengarda) de Toletum (Toledo) até aos cerros escalvados do Calpe (Gibraltar) de onde se avistavam bem perto os cimos das torres de Septum (Ceuta); dos campos de guerra da região de Híspalis (Sevilha, na altura dos romanos também conhecida por Rómula) até ao refúgio (Covadonga) das Astúrias onde não aceitou resignar-se. E que dizer do tresloucado Amor de Perdição de Simão por Teresa de Camilo Castelo Branco que os leva de Viseu até ao enclausuramento no Porto? E as Pupilas do Senhor Reitor (Margarida e Clara) de Júlio Dinis com as suas vivências cruzadas com Daniel no Alto Minho. E, obviamente, não poderia faltar o amor incestuoso de Carlos e Eduarda em "Os Maias" de Eça de Queirós, obra em que o escritor não poupa a decadência moral de então da 'alta' sociedade da capital e não só. Resta dizer que muito do que estes homens nos legaram através dos seus livros mantém-se actual, para o bem e para o mal...


Agora que este vício me invadiu, estou já a preparar a minha próxima viagem no tempo que pode ir desde A Cidade e as Serras ao encontro com A Morgadinha dos Canaviais e aproximar-me da actualidade com Mau Tempo no Canal, A Selva, Aparição, Memorial do Convento, A Sibila e tantos mais...

Aproveito para deixar aqui uma mensagem pelo seu aniversário à maior gladiadora da vida que alguma vez conheci, a minha mãe. Parabéns e muitos anos para me continuar a aturar!