segunda-feira, 9 de março de 2009

Diferente na forma, semelhante no proveito!

Um destes dias perguntaram-me como serão os típicos fins-de-semana passados na terrinha, no meu caso Santa Maria da Feira, a mais de 300 km do local de trabalho. Isso acabou por constituir um desafio para a forma como eu próprio os vejo e qual das perspectivas que os caracteriza é que escolho para enaltecer, se a diferença da forma ou se a semelhança do proveito. Faço então aqui a experiência laboratorial da narração de um deles, por exemplo o último.

Com início em solo sulista, começo por apanhar o comboio que me faz passar a ponte que por sua vez me atira em pensamento para São Francisco, Califórnia, com falha geográfica incluída (será por essa mórbida semelhança que decidiram construir ponte tão similar?). Hoje saio do comboio em Campolide para dar asas a um dos meus 'hobbies', a fotografia, e lá vou eu captar ângulos dos arcos em ogiva de uma das obras mais espectacularmente arrojadas ou arrojadamente espectaculares alguma vez construídas em Portugal, o Aqueduto das Águas Livres. Entretanto há que seguir para Santa Apolónia onde registo o boletim da sorte, com a qual não faço parelha particularmente feliz, e compro a minha revista de viagens preferida, ao longe a capa faz-me lembrar uma cidade, traz de oferta um filme que parece por sua vez trazer na capa o meu actor favorito, Johnny Depp. A cidade é mesmo Nova Iorque, a película é mesmo dele, não posso satisfazer a curiosidade de o ver já em acção mas aproveito a viagem sobre carris para descolar e aterrar sobre uma floresta de pedra, vista a partir do Empire State Building, percorrer as frenéticas avenidas de Manhattan, pessoas com o café da manhã numa mão e a outra bem levantada a fazer operação stop aos seus maiores concorrentes em número e em pressa de chegar a todo o lado e a lado nenhum – os inconfundíveis táxis amarelos. Mas falar em café da manhã é relativo pois, na cidade que nunca dorme, o café da manhã até pode ser tomado com o brilho dos néons publicitários de Times Square ou dos milhares de luzes oriundas das janelas dos seres mais marcantes da cidade – os arranha-céus. Passaram 3 horas e 7 minutos, regresso da viagem imaginária como um relâmpago e acordo em plena estação de Espinho.

É cedo? É tarde? Confesso que não faço a mínima ideia pois ainda não abri os olhos (chego à conclusão que abrir os olhos não é a primeira coisa que se faz ao acordar) mas penso que seja Sábado. Dia de começar por usufruir de um dos grandes prazeres da vida – dormir. Após o almoço procuro a minha octogenária favorita, a minha avó, para lhe dar os parabéns por mais uma primavera que se avizinha e que ela já comemorou, como é habitual, em antecipação e ofereço-lhe chocolates, algo a que ela não resiste tal como uma boa dentada num queijo e tal como a sua filha mais velha que, por sua vez, transmitiu estes gulosos vícios a este filho, neto da primeira. A maluqueira dos iogurtes, essa foi obra da minha pré-infância, e que até Hoje não esmureceu. Um passeio ligeiramente para interior até à barragem leva-me pela estrada ribeirinha de olhos sempre postos no Douro em direcção ao Porto. Visito pela primeira vez o Lugar do Desenho (Fundação do pintor Júlio Resende) e sigo para Gondomar para chegar pontualmente à exposição Afectividades, de uma amiga artista (vale a pena uma visita ao blog da Alexandra onde se pode ver uma amostra do excelente trabalho). Ao jantar recebo um convite para a festa do próximo enlace (desta feita de uma dupla de Santo Tirso) e a noite não acaba sem se beber um copo bem ritmado pelos sons da noite. A minha opção é conhecer o Café del Mar de Gaia, e chego à conclusão que é o menos interessante dos que conheço, falando do 'design' pois a música está boa.

O Domingo tem o velho problema de ser véspera de 2ª feira, passa a correr e traz uma ténue depressão pré-trabalho, mas com o sol a abrir o horizonte nada melhor que o lanche à beira-mar, desta feita em Leça da Palmeira e ficar ali a ver a curva descendente da estrela maior, deixar o crepúsculo semicerrar as pálpebras, a intermitência das luzes no céu que já escureceu e a mentalização para mais uma semana de trabalho, no meu caso ainda com um "pegar de novo o trem".

Está passado mais um fim-de-semana, diferente na forma mas semelhante no proveito. Pelo meio fui debitando estas palavras para o papel sem esquecer de deixar aqui uma homenagem à mulher pelo seu Dia Internacional. Seja pela teoria de evolução bíblica, darwiniana, ou outra qualquer, é a mulher o ser responsável pela existência de todos os homens, no meu caso responsável pela existência, permanência e vontade de continuar. Acrescento uma palavra particularmente especial para as que ocupam cada degrau da minha pirâmide interior desde a base até ao vértice. E acrescento uma palavra de alento para todas as que estão a passar por momentos difíceis, em especial às que vivem encurraladas por vergonhosas opressões. A todas dedico esta música de John Lennon de título evidente e mensagem adequada.