Obviamente olho para os resultados globais dos atletas portugueses em Pequim com algum desalento mas com certeza, seria patético afirmar o contrário, ninguém estará mais frustrado neste momento que os próprios atletas que ficaram aquém das expectativas.
Mas digam lá que mais se pode exigir de pessoas que dão (quase) tudo das suas vidas para atingirem os mínimos, para se prepararem para a derradeira competição, depois das condições que damos à grande maioria? Não digo que são miseráveis, até tem havido algum esforço das entidades “superiores” nos últimos tempos, mas fazendo uma comparação com os restantes países facilmente se vislumbram as diferenças abismais. Ou será que estou a ver mal e afinal estamos na China a competir sozinhos? Alguns até quase abdicam das outras competições internacionais para se apresentarem nas Olimpíadas na máxima força. O desabafo de Gustavo Lima (a medalha de bronze era inteiramente merecida) leva-me para as acusações sobre o dinheiro que se gastou com a preparação dos Jogos. Parece muito? É só dividir esse valor pelo número de atletas e comparar com os prémios individuais dos jogadores da selecção de futebol quando vão às fases finais e lembrar que um dia estes meninos tiveram a distinta lata de pedir isenção fiscal aos seus prémios. No mínimo, os que actuam em grandes clubes, deveriam doá-los, que falta lhes faria? E já que dizem que lá vão pelo orgulho pátrio, que necessidade existe para se atribuir prémios? Portanto, o desabafo do Gustavo faz todo o sentido e, se querem mesmo obter mais medalhas, não há outro remédio que não seja oferecer todas as condições. Senão, resta-nos o consolo de os ver lá com dignidade e, esta, ninguém pode pôr em causa. Que ninguém se sinta envergonhado!
Para a história ficam as medalhas de ouro para Nelson Évora (não vou esquecer o abraço emocionado depois do seu último salto àquele que de vizinho quando chegou de Cabo Verde passou a treinador, João Ganço, a ele se deve muito o êxito) e de prata para Vanessa Fernandes (numa palavra, BRILHANTES). Mas todos os atletas portugueses, pelo esforço, dedicação e ambição ganham a medalha de diamante, são os heróis nacionais.
As piores reacções tiveram o epicentro a partir das declarações de Marco Fortes após o seu mau resultado. No momento achei as mesmas um pouco despropositadas mas rapidamente percebi que o homem por detrás do atleta usou o sentido de humor para mostrar a sua frustração. Agora deu para perceber que em Portugal, para além de se atirar pedras logo ao primeiro desaire, também há muitas “flores de estufa” que se melindram muito facilmente. Haja sentido de humor, precisamos de mandar embora o cinzentismo estampado no rosto deste povo. Os sorrisos combinam melhor com as belas paisagens deste pequeno rectângulo ajardinado …
E o que será mais grave? As declarações do lançador do martelo ou do Presidente do Comité Olímpico Português que num momento diz que se vai embora e depois do resultado do Nelson já fica? Isto soa a “agarrado ao tacho” independentemente das competências que tenha até aqui demonstrado… A nossa atleta de salto Naide Gomes entrou na prova (pouco depois das declarações de Vicente Moura) visivelmente nervosa mas Presidente é Presidente e por isso não se questiona o timing completamente despropositado utilizado para fazer balanços.
E se fossem atletas lusos a deixarem cair o testemunho na prova de estafetas como aconteceu com a equipa norte-americana feminina, ainda por cima uma repetição do sucedido nos jogos anteriores?
Às vezes até é positivo não se ser muito patriota para se olhar para certas coisas com isenção e objectividade. É que, apenas um pormenor a acrescentar a tudo isto, esta foi em termos globais a melhor participação de sempre de uma delegação portuguesa numas olimpíadas. E esta, hein? Um abraço ao eterno Fernando Pessa, a quem roubei a sua tirada final de cada reportagem!
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
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